Archivos de Hygiene e Pathologia Exóticas / Anais do Instituto de Medicina Tropical / Anais do Instituto de Higiene e Medicina Tropical

Nota de introdução

Nos conturbados tempos que se seguiram à Conferência de Berlim (1885) e aos conflitos resultantes do “mapa cor-de-rosa”, a Escola de Medicina Tropical e o Hospital Colonial, com o ensino, a prática médica e a investigação das “medicinas exóticas”, foram um suporte basilar para o incremento da presença portuguesa em África.

Antecedido por quinze anos de ensino de algumas disciplinas médicas na Escola Naval, foi finalmente instituído em Portugal, a 24 de Abril de 1902, o ensino da medicina tropical, conjuntamente com a fundação do Hospital Colonial, em Lisboa, provisoriamente instalados na Cordoaria Nacional. Meses depois, a regulamentação daquele ensino já se refere especificamente à Escola de Medicina Tropical, que foi assim a quarta instituição do seu género a ser fundada no Mundo . Em 1906, o XV Congresso Internacional de Medicina, realizado em Lisboa, firmou definitivamente a designação de “Medicina Tropical”, em desfavor de medicina colonial ou de medicina exótica.

O curso da Escola de Medicina Tropical de Lisboa obrigatório para todos os médicos da Armada passou igualmente a sê-lo para os que exerciam a medicina integrados nos quadros coloniais, e a frequência de algumas das suas disciplinas foi também imposta a outros militares e aos missionários, professores, agricultores e negociantes que fixassem residência nas regiões tropicais, numa atitude de prevenção e promoção da saúde. 

A Escola rapidamente se desenvolveu, complementando a sua acção pedagógica com a investigação e a intervenção nas regiões africanas, definindo assim várias das características que ainda hoje encontramos no Instituto de Higiene e Medicina Tropical. Desde logo, a missão de estudo a Angola e a São Tomé e Príncipe, chefiada por Ayres Kopke, com os seus estudos e o tratamento da doença do sono, de assinalável sucesso, muito contribuíram para o prestígio que a “medicina tropical portuguesa” alcançou no seu início. Mas outros se seguiram e notabilizaram ao longo dos tempos, com comparáveis êxitos, elevando e conduzindo o actual Instituto ao lugar de destaque que internacionalmente se lhe reconhece.

Havia que, sem delongas, firmar por escrito os principais contributos da Escola de Medicina Tropical, da sua actividade, estudos e investigação, das campanhas que promoveu e da organização sanitária que dinamizou. Assim, em 1 de Outubro de 1905, nascem os “Archivos de Hygiene e Pathologia Exóticas”, que na globalidade internacional representam a 3ª publicação do género a ser editada . Os Arquivos publicaram-se até 1918, com um número extra, o Volume VII, datado de 1926.

Com a evolução, em 1935, a Escola passou a Instituto de Medicina Tropical e os Arquivos ressurgem em 1943, sob a direcção de Fraga de Azevedo, e agora com o nome de “Anais do Instituto de Medicina Tropical”, regularmente publicados até 1966, reunindo 23 volumes, alguns com vários fascículos, além de múltiplos suplementos. Entretanto, em 1958 o Instituto mudara-se da Cordoaria para o seu próprio edifício, igualmente na rua da Junqueira, onde ainda permanece.

No ano de 1966 o Instituto de Medicina Tropical funde-se com o Instituto Superior de Higiene (Dr. Ricardo Jorge). Em 1967, sai o volume I dos “Anais da Escola Nacional de Saúde Pública e de Medicina Tropical”. Com vida efémera, a fusão das duas instituições durou apenas seis anos, como seis são os volumes dos Anais desse período, acrescidos de um suplemento ao volume 1. 

Em 1973 aparecem os “Anais do Instituto de Higiene e Medicina Tropical” que assim registam a nova e actual designação do Estabelecimento. Após 1976 e até 1984 os Anais foram publicados com regularidade menos constante, seguindo-se um longo intervalo sem qualquer publicação periódica, autónoma, do Instituto . De 1973 a 1984 o conjunto dos Anais formam dez volumes, dos quais os últimos quatro são já do período em que o Instituto de Higiene e Medicina Tropical foi integrado na Universidade Nova de Lisboa. 

Quando se comemoraram os 110 anos da fundação da Escola de Medicina Tropical, aparece uma renovada série dos Anais, quebrando assim os 28 anos de interrupção. Estes novos Anais, com o primeiro número do ano de 2012, dão prova histórica e do dinamismo que a Instituição sempre soube manter, acompanhando e vencendo tempos de mudanças, de alterações na organização sócio-política, mas sempre de cooperação em Medicina Tropical, bem como seguindo a par-e-passo os avanços da ciência e da tecnologia, como os mais recentes modelos de organização da saúde e as vicissitudes das doenças outrora chamadas de exóticas, mas hoje mais próximas e acompanhando a maior e rápida mobilidade das populações, que tudo são os novos e marcantes desafios na esfera das patologias e da saúde.

Igualmente em 2012, o portal do IHMT passou a incluir uma compilação em “fac-simile” de todas as capas e dos índices dos “Arquivos” e “Anais”, cujos conteúdos digitalizados ficam também agora disponíveis no “Memórias de África e do Oriente”, um portal da Fundação Portugal-África e Centro de Estudos sobre África e do Desenvolvimento, da Universidade de Aveiro.

Desejamos que estas colectâneas sejam úteis aos investigadores e aos alunos da ciência médica, servindo ainda os historiadores e a generalidade dos leitores interessados. 

IHMT, Lisboa, Março de 2016

José Luís Doria
(IHMT, Museu e Arquivo Histórico)


NOTAS

1Antes da Escola de Medicina Tropical, de Lisboa, tinham sido fundadas as Escolas de Liverpool (1898), de Londres (1899) e a de Hamburgo (1900). Em França, o ensino programado da Medicina Tropical, embora sem escola específica, antecedeu também a criação da Escola de Lisboa. A Escola de Liverpool, Liverpool School of Tropical Medicine, foi fundada em Novembro de 1898, seis meses antes da Escola de Londres (Abril 1899). Anos depois, em 1907 foi fundada a Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene. Por impulso das escolas e sociedade inglesas abriram mais tarde varias escolas nas antigas possessões britânicas, como a Escola de Medicina Tropical de Calcutá, em 1923.

Em Outubro de 1900 abriu, no antigo Hospital Naval de Hamburgo, o “Instituto de Doenças Marítimas e Tropicais”, sob a direcção de Bernhard Nocht (1857-1945), cujo nome ficou, em 1942, agregado á designação do Instituto.

No ano de 1900 foi fundado o Instituto Soroterápico no Rio de Janeiro renomeado depois com o nome do seu director, Oswaldo Cruz

2 A primeira publicação inglesa sobre Medicina Tropical surgiu em 1863, com o nome de “Annals of Military and Naval Surgery and Tropical Medicine and Hygiene”, mas teve vida efémera. De entre as publicações periódicas especificamente dedicadas à Medicina Tropical destacam-se, com as respectivas datas de início de publicação:

  • Journal of Tropical Medicine and Hygiene (1898)*
  • Archivos de Hygiene e Pathologia Exoticas (1905)
  • Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene (1907)
  • Bulletin de la Societé de Pathologie Exotique (1908)
  • Memórias do Instituto Oswaldo Cruz (1909)
  • American Journal of Tropical Diseases and Preventive Medicine, (1913)
  • Annales de la Société Belge de Médecine Tropicale (1920)*
  • Tropical and Geographical Medicine (incluida na Acta Leidensia) (1920)*

Destaque

Anais do Instituto de Medicina Tropical.V9.N1
Instituto de Medicina Tropical, N1 - 09, 1952 - 351 pags.

Anais do Instituto de Medicina Tropical.V9.N1
Instituto de Medicina Tropical, Vol. N1 - 09, 1952, 351 pags.
 

Títulos da coleção

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Títulos: 30 | Páginas: 9,708
Anais do Instituto de Medicina Tropical.V1.F1
Instituto de Medicina Tropical, Vol. F1 - 01, 1943, 248 pags.
Anais do Instituto de Medicina Tropical.V1.F2
Instituto de Medicina Tropical, Vol. F2 - 01, 1944, 314 pags.
Anais do Instituto de Medicina Tropical.V1.S1, [As protozooses intestinais em Cabo Verde]
Fernando da Cruz Ferreira, Gustavio Egrejas, Vol. S1 - 01, 1945, 119 pags.
Anais do Instituto de Medicina Tropical.V1.S2, [Contribuição ao Estudo do Tratamento da Lepra segundo os resultados obtidos em 10 anos de Terapêutica Antileprótica na Leprosaria Central de Goa]
O. de Loiola Pereira, Vol. S2 - 01, 1945, 155 pags.
Anais do Instituto de Medicina Tropical.V2
Instituto de Medicina Tropical, 02, 1945, 515 pags.
Anais do Instituto de Medicina Tropical.V3
Instituto de Medicina Tropical, 03, 1946, 662 pags.
Anais do Instituto de Medicina Tropical.V4
Instituto de Medicina Tropical, 04, 1947, 1047 pags.
Anais do Instituto de Medicina Tropical.V5
Instituto de Medicina Tropical, 05, 1948, 625 pags.
Anais do Instituto de Medicina Tropical.V5.S1, [Demografia e noso-necrologia do arquipélago de Cabo Verde]
José Firmino Sant'Anna, Vol. S1 - 05, 1949, 405 pags.
Anais do Instituto de Medicina Tropical.V6
Instituto de Medicina Tropical, 06, 1949, 703 pags.
Anais do Instituto de Medicina Tropical.V7
Instituto de Medicina Tropical, 07, 1950, 661 pags.
Anais do Instituto de Medicina Tropical.V7.S1
Instituto de Medicina Tropical, Vol. S1 - 07, 1950, 205 pags.

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